segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Espiritismo e vida Psíquica


ESPIRITISMO E VIDA PSÍQUICA

Por Jorge Andrea dos Santos

Muitos foram os que entenderam a mensagem da Doutrina Espirita em face dos conhecimentos científicos. Os indivíduos, dentro de suas épocas avaliaram, ao seu próprio modo, os blocos de conhecimentos, chegados através de autênticas mensagens mediúnicas ou sob forma de impulsos anímicos; isto é, os conhecimentos eram oferecidos diretamente aos médiuns ou sensíveis, criados ou mesmo captados pelos que, mais evoluídos, melhor descortinavam os horizontes da vida maior.

Um dos grandes exemplos está num dos criadores da psicologia profunda, Carl G. Jung. Jung foi possuidor de extensas e variadas qualidades mediúnicas, por cujo meio muitas das informações, por ele próprio analisadas, foram anexadas à psicologia, de modo velado ou mais diretamente ligadas aos conhecidos fenômenos paranormais de seu tempo. Estudou e avaliou os fenômenos da clarividência, audiência, premonições, os diversos deslocamentos perispirituais e suas projeções pré-agônicas. Muitos desses fatos, catalogados e bem submetidos a análises, em face da psicologia, achava-os cientificamente inexplicáveis, apesar de interessantes. É por isso que a sua psicologia está eivada de tonalidades espirituais, o que muito concorreu para as severas criticas da ciência oficial. Apesar de conhecer as verdades dos fenômenos paranormais, diante da sua própria sensibilidade mediúnica, não pode ampliá-los cientificamente, quanto desejou; teve seus limites, mas, mesmo assim, foi bastante longe para sua época. Contudo, pagou muito caro pela superioridade de suas idéias, diante de um bioco de cientificismo sempre desejoso de limitar seus vôos.

A linguagem científica nem sempre oferece elementos para o indivíduo revelar-se psicologicamente, pois a linguagem e as medidas da ciência não conseguem acompanhar os imensos vôos das emoções e sensações intimas. A zona consciente é limitada: não oferece condições de aberturas maiores, que as emoções necessitam. A consciência não possui condições de precisas avaliações em face dos derrames psicológicos das emoções; poderá, sim, reter alguns parâmetros, mas, mesmo assim, sem possibilidades de responder pela realidade das efusões emocionais. A idéia é conseqüência das impressões próprias a cada ser; cada qual percebe de acordo com o arcabouço psicológico que carrega. Essas variações colocaram a ciência em posição de defesa; por isso, somente aceitando o que a maioria percebe. A medida da verdade está relacionada com o potencial perceptivo da maioria. Se a maioria estiver circulando em posições medíocres, a verdade terá o colorido da mediocridade que, embora sendo verdade, não tem condições de maiores vôos - estende-se e amplia-se horizontalmente, mas sem possibilidades de verticalização a se refletir em posição superior. Na verticalização, as idéias apresentam-se coloridas pelas emoções mais afinadas que, em última análise, transformam-se em fé baseada numa inconteste verdade.

A existência de fé que o indivíduo carrega, não importando o modo pelo qual se exteriorize, se objetivando as emoções mais purificadas em imagens, símbolos ou elementos de características concretas, ou se mostrando numa posição subjetiva (inexplicável em posições objetivas), dinâmica, envolta em lógico e compreensível raciocínio, seria o resultado dos impulsos da zona central do inconsciente, o EU, a Individualidade Espiritual, esparzindo-se na periferia ou zona consciente e traduzida dentro das possibilidades desse campo psíquico. Os impactos de puras emoções podem ser percebidos como verdades indefinidas, porém, repetimos, dentro de um raciocínio lógico, aceitável e bem homologado na zona consciente. Todos esses impulsos da zona inconsciente ou espiritual teriam um abastecimento direto, de energias maiores, pela sua zona central (inconsciente puro) ligada ao cosmo? Assim perguntamos, por percebermos que a natureza espiritual do homem ou campos do inconsciente mostram um constante e inacabável fluxo sustentando todo o trabalho do psiquismo, apesar de computarmos a imensa influência dos fatores do meio. Somente com esse organizado e íntimo impulso, podemos explicar o modo pelo qual absorvemos e bem direcionamos as experiências do meio exterior, ao incorporá-las sob forma de aptidões que se fixarão pela vida em fora.

Todos esses fatos exteriores, as coisas que pelo planeta se passam e anotadas pela zona consciente, são retalhos bem superficiais de insondáveis segredos. Arrecadamos muito pouco e compreendemos menos ainda o que se passa a nossa volta. Consideremos, também, que a redução perceptiva do nosso psiquismo está relacionada com as condições da natureza humana, pois, como bem percebemos, está mais constituída de um tipo de homem que, pela sua restrita e limitada compreensão, não possui condições de avaliar as razões de sua própria existência. Assim a maioria é representada por aqueles que aceitam as vãs palavras das religiões simbólicas, dogmáticas e de superfície para não raciocinarem ou terem inquietações com as finalidades da vida.

A vida do homem encarnado é uma psique "de passagem'' buscando evolução; mesmo em face das reduzidas possibilidades perceptivas da zona consciente, poderá avaliar as aparentes imperfeições, como, também, rasgos prodigiosos. Essas são oscilações necessárias dentro do impulso evolutivo; no bloco de proposições psicológicas, cada ser arrecada o que deve e o que pode, embora a experiência vivida represente lastro para os campos imortais do Espírito.

Os que limitam as suas realizações, exclusivamente através dos mecanismos intelectuais, ficam como que reduzidos a duas dimensões; quando aparece em cena a terceira dimensão, com as incrustações das emoções, acham-se tragados por um mundo que transcende aos seus próprios limites—os fenômenos ultrapassam a conceituação intelectiva. Alguns escapam pela tolerância, lógica e entendimento; outros tantos desejam dominar o bloco fenomênico pelas exclusivas razões do intelecto, envolvendo com isso, nas malhas de inquietantes raciocínios desembocando na intolerância dos inconformados e dos azedos e mesmo nas ansiedades das pequenas neuroses reativas, concluindo que a vida não possui finalidade; buscam no exagerado tecnicismo materialista a solução de suas inquietudes.

Os que abriram as comportas da dimensão espiritual, aceitando doutrinas que encerram lógica e dinâmica de vida acompanhando a evolução científica da época (característica da Doutrina Espírita), entregar-se-ão à vida com a satisfação dos justos pela compreensão de sua pequenez evolutiva. Dai, o pretenso e vaidoso intelectual ser um indivíduo pouco acessível em todas as atividades, e quando portador de distonias mentais, principalmente as neuroses são os doentes de mais difícil tratamento pelo limitado e fechado círculo intelectual que criaram e desenvolveram tudo pela simples razão de não desejarem tratar-se diante da impertinência de suas idéias; são indivíduos que se encontram marginalizados e encravados nas armilas de seus reduzidos pensamentos.

Todo homem sente, no fundo de seu próprio arcabouço espiritual, dificuldades, quando assuntos novos são ventilados e não fazem parte dos conceitos científicos em vigor. Entretanto, os que percebem as novas verdades espirituais, lançadas como elementos propulsores da evolução, passam pelos acúleos da incompreensão e só encontram algum sossego na busca da solidão; sofrem sozinhos, não são compreendidos, mas tudo suportam pela certeza de que aquela verdade existe mesmo sem ser reconhecida. Sabem que um dia será divulgada, mas têm necessidade de esparzir as idéias e realizar um grande esforço pela sua divulgação - é o impulso evolutivo na intimidade dos seres. Nos páramos de sua incompreendida solidão, o homem mais evoluído passa a ter maior visão diante dos seus .semelhantes; com isso fica à margem, não é compreendido, mas é o solitário que não deve ser traduzido como um opositor da sociedade onde vive porém um ativo, uma estrela que brilhará em época futura. É o homem que a comunidade afasta e alija, sem saber que é aquele que mais sente os seus problemas, o que mais participa e por ela sofre, por se considerar mais responsável pelas suas condições evolutivas:

O homem que já percebeu mais além do que os participantes de sua grei, e mesmo assim continua em contato constante comungando com o bloco coletivo do qual participa, recebe o intenso colorido das opiniões desarmônicas; só a solidão Ihe propicia alguma paz, pois nela, é quase sempre premiado pela luz que não pode logo divulgar por não ser entendido. Os que se encontram abaixo dele são sempre festejados pelas pequenas idéias que a massa possa alcançar; ele, com a luz da verdade será temporariamente, abandonado e muitas vezes perseguido.

O homem hodierno, que já percebe muitas coisas atinentes ao mundo espiritual, não pode nem deve ficar atado ao presente; mesmo participando das técnicas e conhecimentos mais sadios, necessita de estar ligado ao passado da humanidade, por ser o seu e por corresponder às suas vivências pretéritas. Sem esta ligação estará aturdido, sem entender os seus impulsos e as variações do momento presente; procura, de modo desatinado, caminhos, valendo-se do tecnicismo sem alma, a fim de explicar a sua posição; lança mão das descobertas científicas como seus autênticos deuses; procura amparar-se em religiões mal aparelhadas e superficiais, sem condições de mergulhar nas verdades da vida. A ponte de ligação, entre passado e presente, representa o elo de uma cadeia de acontecimentos, a porta por onde passam as experiências da vida, que vão lastreando o espírito e ampliando os seus alicerces. O momento presente do homem, atado às suas experiências ancestrais, poderá fornecer caminhos e seguras trilhas, sem inquietações e alucinações proféticas; confiante na imortalidade e nas equações de seu próprio rosário reencamatório poderá sentir e ver desfilar, diante de si as promessas e realizações para um dignificante futuro.

FONTE: Presença Espírita, abril / 1983.