ESPIRITISMO E VIDA PSÍQUICA
Por Jorge Andrea dos Santos
Muitos
foram os que entenderam a mensagem da Doutrina Espirita em face dos
conhecimentos científicos. Os indivíduos, dentro de suas épocas avaliaram, ao
seu próprio modo, os blocos de conhecimentos, chegados através de autênticas
mensagens mediúnicas ou sob forma de impulsos anímicos; isto é, os
conhecimentos eram oferecidos diretamente aos médiuns ou sensíveis, criados ou
mesmo captados pelos que, mais evoluídos, melhor descortinavam os horizontes da
vida maior.
Um dos
grandes exemplos está num dos criadores da psicologia profunda, Carl G. Jung. Jung foi possuidor de
extensas e variadas qualidades mediúnicas, por cujo meio muitas das
informações, por ele próprio analisadas, foram anexadas à psicologia, de modo
velado ou mais diretamente ligadas aos conhecidos fenômenos paranormais de seu
tempo. Estudou e avaliou os fenômenos da clarividência, audiência, premonições,
os diversos deslocamentos perispirituais e suas projeções pré-agônicas. Muitos
desses fatos, catalogados e bem submetidos a análises, em face da psicologia,
achava-os cientificamente inexplicáveis, apesar de interessantes. É por isso
que a sua psicologia está eivada de tonalidades espirituais, o que muito
concorreu para as severas criticas da ciência oficial. Apesar de conhecer as
verdades dos fenômenos paranormais, diante da sua própria sensibilidade
mediúnica, não pode ampliá-los cientificamente, quanto desejou; teve seus
limites, mas, mesmo assim, foi bastante longe para sua época. Contudo, pagou
muito caro pela superioridade de suas idéias, diante de um bioco de
cientificismo sempre desejoso de limitar seus vôos.
A
linguagem científica nem sempre oferece elementos para o indivíduo revelar-se
psicologicamente, pois a linguagem e as medidas da ciência não conseguem
acompanhar os imensos vôos das emoções e sensações intimas. A zona consciente é
limitada: não oferece condições de aberturas maiores, que as emoções
necessitam. A consciência não possui condições de precisas avaliações em face
dos derrames psicológicos das emoções; poderá, sim, reter alguns parâmetros, mas,
mesmo assim, sem possibilidades de responder pela realidade das efusões
emocionais. A idéia é conseqüência das impressões próprias a cada ser; cada qual percebe de acordo com o arcabouço
psicológico que carrega. Essas variações colocaram a ciência em posição de
defesa; por isso, somente aceitando o que a maioria percebe. A medida da
verdade está relacionada com o potencial perceptivo da maioria. Se a maioria
estiver circulando em posições medíocres, a verdade terá o colorido da
mediocridade que, embora sendo verdade, não tem condições de maiores vôos -
estende-se e amplia-se horizontalmente, mas sem possibilidades de
verticalização a se refletir em posição superior. Na verticalização, as idéias
apresentam-se coloridas pelas emoções mais afinadas que, em última análise,
transformam-se em fé baseada numa inconteste verdade.
A
existência de fé que o indivíduo carrega, não importando o modo pelo qual se
exteriorize, se objetivando as emoções mais purificadas em imagens, símbolos ou
elementos de características concretas, ou se mostrando numa posição subjetiva
(inexplicável em posições objetivas), dinâmica, envolta em lógico e
compreensível raciocínio, seria o resultado dos impulsos da zona central do
inconsciente, o EU, a Individualidade Espiritual, esparzindo-se na periferia ou
zona consciente e traduzida dentro das possibilidades desse campo psíquico. Os
impactos de puras emoções podem ser percebidos como verdades indefinidas,
porém, repetimos, dentro de um raciocínio lógico, aceitável e bem homologado na
zona consciente. Todos esses impulsos da zona inconsciente ou espiritual teriam
um abastecimento direto, de energias maiores, pela sua zona central
(inconsciente puro) ligada ao cosmo? Assim perguntamos, por percebermos que a natureza espiritual do homem ou campos do
inconsciente mostram um constante e inacabável fluxo sustentando todo o
trabalho do psiquismo, apesar de computarmos a imensa influência dos fatores do
meio. Somente com esse organizado e íntimo impulso, podemos explicar o modo
pelo qual absorvemos e bem direcionamos as experiências do meio exterior, ao
incorporá-las sob forma de aptidões que se fixarão pela vida em fora.
Todos
esses fatos exteriores, as coisas que pelo planeta se passam e anotadas pela
zona consciente, são retalhos bem superficiais de insondáveis segredos.
Arrecadamos muito pouco e compreendemos menos ainda o que se passa a nossa
volta. Consideremos, também, que a redução perceptiva do nosso psiquismo está
relacionada com as condições da natureza humana, pois, como bem percebemos,
está mais constituída de um tipo de homem que, pela sua restrita e limitada
compreensão, não possui condições de avaliar as razões de sua própria
existência. Assim a maioria é
representada por aqueles que aceitam as vãs palavras das religiões simbólicas,
dogmáticas e de superfície para não raciocinarem ou terem inquietações com as
finalidades da vida.
A vida
do homem encarnado é uma psique "de passagem'' buscando evolução; mesmo em
face das reduzidas possibilidades perceptivas da zona consciente, poderá
avaliar as aparentes imperfeições, como, também, rasgos prodigiosos. Essas são
oscilações necessárias dentro do impulso evolutivo; no bloco de proposições
psicológicas, cada ser arrecada o que deve e o que pode, embora a experiência
vivida represente lastro para os campos imortais do Espírito.
Os que
limitam as suas realizações, exclusivamente através dos mecanismos
intelectuais, ficam como que reduzidos a duas dimensões; quando aparece em cena
a terceira dimensão, com as incrustações das emoções, acham-se tragados por um
mundo que transcende aos seus próprios limites—os fenômenos ultrapassam a
conceituação intelectiva. Alguns escapam pela tolerância, lógica e
entendimento; outros tantos desejam dominar o bloco fenomênico pelas exclusivas
razões do intelecto, envolvendo com isso, nas malhas de inquietantes
raciocínios desembocando na intolerância dos inconformados e dos azedos e mesmo
nas ansiedades das pequenas neuroses reativas, concluindo que a vida não possui
finalidade; buscam no exagerado tecnicismo materialista a solução de suas
inquietudes.
Os que
abriram as comportas da dimensão espiritual, aceitando doutrinas que encerram
lógica e dinâmica de vida acompanhando a evolução científica da época
(característica da Doutrina Espírita), entregar-se-ão à vida com a satisfação
dos justos pela compreensão de sua pequenez evolutiva. Dai, o pretenso e
vaidoso intelectual ser um indivíduo pouco acessível em todas as atividades, e
quando portador de distonias mentais, principalmente as neuroses são os doentes
de mais difícil tratamento pelo limitado e fechado círculo intelectual que
criaram e desenvolveram tudo pela simples razão de não desejarem tratar-se
diante da impertinência de suas idéias; são indivíduos que se encontram
marginalizados e encravados nas armilas de seus reduzidos pensamentos.
Todo
homem sente, no fundo de seu próprio arcabouço espiritual, dificuldades, quando
assuntos novos são ventilados e não fazem parte dos conceitos científicos em
vigor. Entretanto, os que percebem as novas verdades espirituais, lançadas como
elementos propulsores da evolução, passam pelos acúleos da incompreensão e só
encontram algum sossego na busca da solidão; sofrem sozinhos, não são
compreendidos, mas tudo suportam pela certeza de que aquela verdade existe mesmo
sem ser reconhecida. Sabem que um dia será divulgada, mas têm necessidade de
esparzir as idéias e realizar um grande esforço pela sua divulgação - é o
impulso evolutivo na intimidade dos seres. Nos páramos de sua incompreendida
solidão, o homem mais evoluído passa a ter maior visão diante dos seus
.semelhantes; com isso fica à margem, não é compreendido, mas é o solitário que
não deve ser traduzido como um opositor da sociedade onde vive porém um ativo,
uma estrela que brilhará em época futura. É o homem que a comunidade afasta e
alija, sem saber que é aquele que mais sente os seus problemas, o que mais
participa e por ela sofre, por se considerar mais responsável pelas suas
condições evolutivas:
O
homem que já percebeu mais além do que os participantes de sua grei, e mesmo
assim continua em contato constante comungando com o bloco coletivo do qual
participa, recebe o intenso colorido das opiniões desarmônicas; só a solidão
Ihe propicia alguma paz, pois nela, é quase sempre premiado pela luz que não
pode logo divulgar por não ser entendido. Os que se encontram abaixo dele são
sempre festejados pelas pequenas idéias que a massa possa alcançar; ele, com a
luz da verdade será temporariamente, abandonado e muitas vezes perseguido.
O
homem hodierno, que já percebe muitas coisas atinentes ao mundo espiritual, não
pode nem deve ficar atado ao presente; mesmo participando das técnicas e
conhecimentos mais sadios, necessita de estar ligado ao passado da humanidade,
por ser o seu e por corresponder às suas vivências pretéritas. Sem esta ligação estará aturdido, sem
entender os seus impulsos e as variações do momento presente; procura, de modo
desatinado, caminhos, valendo-se do tecnicismo sem alma, a fim de explicar a
sua posição; lança mão das descobertas científicas como seus autênticos
deuses; procura amparar-se em religiões mal aparelhadas e superficiais, sem
condições de mergulhar nas verdades da vida. A ponte de ligação, entre passado e presente, representa o elo de uma
cadeia de acontecimentos, a porta por onde passam as experiências da vida, que
vão lastreando o espírito e ampliando os seus alicerces. O momento presente
do homem, atado às suas experiências ancestrais, poderá fornecer caminhos e
seguras trilhas, sem inquietações e alucinações proféticas; confiante na
imortalidade e nas equações de seu próprio rosário reencamatório poderá sentir
e ver desfilar, diante de si as promessas e realizações para um dignificante
futuro.
FONTE:
Presença Espírita, abril / 1983.