Psicogênese da Ansiedade
Texto
do Espírito Joanna de Angelis, retirado do livro “Conflitos Existenciais”.
São muitos os fatores predisponentes e
preponderantes que desencadeiam a ansiedade.
Além das conjunturas ancestrais defluentes
dos conflitos trazidos de existências transatas, a criança pode apresentar,
desde cedo, os primeiros sintomas de ansiedade no medo inato do desconhecido –
denominado por John Bowlby como vinculação – e do não familiar. Em realidade,
essa vinculação apresenta um lado positivo que é o de oferecer-lhe conforto e
segurança, especialmente junto à mãe com a qual interage em forma de prazer.
Desde o nascimento, havendo esse sentimento profundo, a criança prepara-se para
uma sólida interação com a sociedade, e demonstra-o, desde o princípio, quando
qualquer alegria ou satisfação proporciona-lhe um amplo sorriso,
apresentando-se calma e confiante.
Quando, porém, isso não ocorre, há uma
possibilidade de a criança não sobreviver ou atravessar períodos difíceis, em
face do medo inespecífico que seria originado pela ausência da mãe, que os
psiquiatras identificam na condição de ansiedade livre flutuante.
O paciente apresenta um medo exagerado, e
porque não sabe de quê, fica ainda com mais medo, formando um ciclo vicioso.
Dessa ansiedade, as aparentes ameaças externas, mesmo que insignificantes,
tornam-se-lhe demasiadamente grandes, culminando, na idade adulta, com uma
dependência infantil.
Quando uma criança é severamente punida pelos pais – que se apresentam como predadores cruéis – há maior necessidade de apego, tornando-a mais dependente, buscando refúgio, neles mesmos, que são os fatores do seu medo.
Esse medo do desconhecido, ainda, segundo
Bowlby, impõe uma vinculação familiar que, ao ser desfeita, amplia a área da
ansiedade.
Certamente, o fenômeno tem as suas raízes profundas na necessidade de reparação da afetividade conflitiva que vem de outras existências espirituais, quando houve desgoverno de conduta, gerando animosidade (nos atuais pais) e necessidade de apoio (no Espírito endividado, que ora se sente rejeitado).
A vinculação com o pai produz segurança, a
separação proporciona angústia.
No período inicial, essa vinculação pode
ser transferida para outrem, quando na ausência da mãe, mais tarde, porém, como
a criança já sabe que é a mãe, não a tendo, chora, perturba-se, inquieta-se, e
transfere a insegurança para os outros períodos da existência.
Essa ansiedade básica ou fundamental
representa a segurança que resulta de sentir-se a sós, num mundo hostil, em
total desamparo, levando-a a um tormento, no qual nunca está emocionalmente
onde se encontra, desejando conseguir o que ainda não aconteceu.
Como decorrência da instabilidade que a
caracteriza, anseia por situações proeminentes, destaques, conquistas de
valores, especialmente realização pelo amor, em mecanismos espetaculares de
fuga do conflito...
A busca do amor faz-se-lhe, então,
tormentosa e desesperadora, como se pudesse, através desse recurso, amortecer a
ansiedade. No íntimo, porém, evita envolvimentos emocionais verdadeiros por
medo de os perder e vir a sofrer-lhes as consequências.
Existe uma necessidade de identificação de
pensamentos irracionais que, não poucas vezes, são os responsáveis pelo
desencadeamento da ansiedade. Basta um simples encontro, algo que desperte um
pensamento automático e irracional, e ei-la que se faz presente.
No inconsciente do indivíduo inseguro
existe uma necessidade de auto-realização que, não conseguida, favorece-lhe a
fuga pela ansiedade, normalmente produzindo-lhe desgaste no sistema emocional,
por efeito gerando estresse no comportamento.
Na problemática dos conflitos humanos surge
o recalcamento que, segundo Freud, resultaria da ansiedade intensa, de um
estado emocional muito semelhante ao medo. Segundo ele, o medo da criança de
perder o afeto dos pais, leva-a à ansiedade, que a induz a atitudes de inquietação
e agressividade.
Considerando-se, ainda, conforme o eminente
mestre vienense, que a ansiedade é muito desagradável à criança, ela se
esforçará para ver-se livre. Não conseguindo, foge para dentro de si mesma,
experienciando a insegurança por sentir-se impossibilitada de reprimir o que a
desperta – o ato interdito.
Processos enfermiços no organismo físico
igualmente respondem pelo fenômeno da ansiedade, especialmente se o indivíduo
não se encontra com estrutura emocional equilibrada para os enfrentamentos que
qualquer enfermidade proporciona.
O medo de piorar, de não se libertar da doença, recuperando a saúde, o receio da falta de recursos para atender às necessidades defluentes da situação, o temor dos comentários maliciosos de pessoas insensatas em torno da questão, o pavor da morte favorecem o distúrbio de ansiedade, que se agrava na razão direta em que as dificuldades se apresentam.
A ansiedade é, na conjuntura social da
atualidade, um grave fator de perturbação e de desequilíbrio, que merece
cuidados especiais, observação profunda e terapia especializada.
Desdobramento
dos Fenômenos Ansiosos
A ausência de serenidade para enfrentar os
desafios da existência, faz que o comportamento do indivíduo se torne doentio,
cheio de expectativas, normalmente perturbadoras, gerando incapacidade de ação
equilibrada e de desenvolvimento dos valores ético-morais corretos.
Ao mesmo tempo, avoluma-se na mente uma
grande quantidade de ambições, de desejos de execução ou conquista de coisas
simultaneamente, aturdindo, desorientando o paciente, que sempre se transfere
de um estado psicológico para outro, muitas vezes alternando também o humor,
ora risonho, ora sisudo. A necessidade conflitiva de preencher os minutos com
atividades, mesmo que desconexas, diminui-lhe a capacidade de observação,
confunde-lhe o pensamento e, quando, por motivo imperioso vê-se obrigado a
parar, amolenta-se, deixando de prestar atenção ao que ocorre, para escorregar
pelo sono no rumo da evasão da realidade.
Justifica que não está adormecido, mas de
olhos fechados, realmente dominado por um estranho torpor, que é fruto do
desinteresse pelo que acontece em volta, pelo que sucede em seu entorno,
convocando-o a outras motivações que, não fazendo parte do seu tormento,
infelizmente não despertam interesse.
O comportamento ansioso, não poucas vezes,
é estimulado por descargas contínuas de adrenalina, o hormônio secretado pelas
glândulas supra-renais, que ativam a movimentação do indivíduo, parecendo
vitalizá-lo de energias, que logo diminuem de intensidade.
Quanto mais se deixa arrastar pela
insatisfação do que faz, mais deseja realizar, não se fixando na análise das
operações concluídas, logo desejando outros desafios e labores que não tem
capacidade para atender conforme seria de desejar.
Na sua turbulência comportamental, os
indivíduos tornam-se, não raras vezes, exigentes e preconceituosos, agressivos
e violentos, desejosos de impor a sua vontade contra a ordem estabelecida ou
aquilo que consideram como errado e carente de reparação.
Os seus relacionamentos são turbulentos,
porque se desejam impor, não admitindo restrições à forma de conduta, nem
orientação que os invite a uma mudança de comportamento.
Quando são atraídos sexualmente, tornam-se
quase sempre passionais, porque supõem que é amor aquilo que experimentam,
desejando submeter a outra pessoa aos seus caprichos e exigências, como
demonstração de fidelidade, o que, após algum tempo de convivência, torna-se
insuportável, em razão dessas descargas contínuas de epinefrina que respondem
por essa necessidade de mudanças de conduta, pela instabilidade nas realizações.
Passados os momentos de abstração da
realidade, quando a melancolia profunda mergulhou-o no desinteresse pela vida e
na tristeza sem par, o salto para a exaltação leva-o, com freqüência, aos
delírios visuais e auditivos, extrapolando as possibilidades, para assumir
personificações místicas ou histriônicas, poderosas e invejadas, cujas
existências enganosas encontram-se no seu inconsciente.
Terminado o período de excitação, no
trânsito para o novo submergir na angústia, torna-se muito perigoso, porque a
realidade perde os contornos, e o desejo de fuga, de libertação do mal-estar
atira-o nos abismos do autocídio.
Desfilam em nossa comunidade social
inúmeros indivíduos ansiosos que se negam ao reconhecimento do distúrbio que os
atormenta, procurando disfarçar com o álcool, o tabaco, nos quais dizem dispor
de um bastão psicológico para apoio e melhor reflexão, nas drogas aditivas ou
no sexo desvairado, insaciável, o que mais lhes complica o quadro de insanidade
emocional.
O reconhecimento da situação abre
oportunidade para uma terapia de auto-ajuda, pelo menos, ensejando-se receber
de imediato o apoio do especialista.
Terapia
para a Ansiedade
Inquestionavelmente, todas as aflições e
todos os desapontamentos que aturdem o ser humano procedem-lhe do Espírito que
é, atado aos conflitos que se derivam das malogradas experiências corporais
transatas.
O self, ao largo das vivências acumuladas,
exterioriza as inquietações e culpas que necessitam de ser liberadas mediante a
catarse pelo sofrimento reparador, a fim de harmonizar-se.
Quando isso não ocorre o ego apresenta-se
estremunhado, inquieto, ansioso...
Especificamente, no distúrbio da ansiedade,
esses fenômenos atormentadores sucedem-se, como liberação dos dramas íntimos
que jazem no inconsciente profundo – arquivados nos recessos do perispírito – e
afetam o sistema emocional.
A terapêutica libertadora há que iniciar-se
na racionalização do tormento, trabalhando-o mediante a reflexão e a adoção do
otimismo, de modo que lentamente a paciência e o equilíbrio possam instalar-se
nas paisagens interiores.
Psicoterapeutas hábeis conseguirão detectar
as causas atuais da ansiedade – remanescentes das causalidades anteriores –
liberando, a pouco e pouco, o paciente, através da confiança que lhe infundem,
encorajando-o para os cometimentos saudáveis.
Em alguns casos, quando há problema da
libido, o psicanalista poderá reconduzir o indivíduo à experiência da vida
fetal, ou da perinatal, ou infantil no lar, destrinçando as teias retentivas em
torno da perturbação que não conseguiu digerir no período da ocorrência.
Transferindo os medos e as incertezas para
o inconsciente, ei-los agora ressumando em forma de ansiedade, que poderá ser
diluída após o trabalho de psicanálise nas suas origens.
O paciente, no entanto, como responsável
pelo distúrbio psicológico, deve compreender a finalidade da sua atual
existência corporal, instrumentalizando-se com segurança para trabalhar-se,
adaptando-se ao esquema de saúde e de paz.
Nesse sentido, as leituras edificantes
propiciadoras de renovação mental e emocional, as técnicas da Ioga
disciplinando a vontade e o sistema nervoso, constituem valiosos recursos
psicoterapêuticos ao alcance de todos.
Nunca esquecer-se, igualmente, que a
meditação, induzindo à calma e ao bem-estar, inspira à ação do bem, do amor, da
compaixão e da caridade em relação a si mesmo e ao próximo, haurindo alegria de
viver e satisfação de auto-realizar-se, entregando-se aos desígnios divinos, ao
tempo em que realizará a tarefa de criatura lúcida e consciente das próprias
responsabilidades, que descobriu o nobre sentido existencial.
A ansiedade natural, o desejo de que ocorra
o que se aguarda, a normal expectativa em torno dos fenômenos existenciais
compõem um quadro saudável na existência de todos os indivíduos equilibrados.
O tormento, porém, que produz distúrbios
generalizados, tais: sudorese abundante, colapso periférico, arritmia cardíaca,
inquietação exagerada, receio de insucesso, produz o estado patológico, que
pode ser superado com o auxílio do especialista em psicoterapia e o desejo
pessoal realizado com empenho para consegui-lo.
As aflições defluentes da ansiedade podem
ser erradicadas, portanto, graças aos cuidados especializados, adicionados à
aplicação da bioenergia por meio dos passes e da água fluidificada que
restauram o campo vibratório e revitalizam as células. Outrossim, o hábito da
oração e o cultivo dos pensamentos dignificadores são o coroamento do processo
curativo para o encontro da saúde e da paz.
Jesus, o Psicoterapeuta por excelência,
asseverou, no Sermão da Montanha (Mat 5-4) Bem-aventurados
os que choram – recuperando-se das culpas e das mazelas – porque eles serão consolados.
Fonte: http://psicologiaespirita.blogspot.com.br/search/label/Ansiedade