J.S.Goudinho
Os Fundamentos Científicos e Espiritualistas Sobre as Personalidades Psíquicas.
(Por J.S.Goudinho)
Jung
Jung entendia que “os vários grupos de conteúdos psíquicos ao desvincular-se da consciência, passam para o inconsciente, onde continuam, numa existência relativamente autônoma, a influir sobre a conduta". E que “a psiquê, tal como se manifesta, é menos um continente do que um arquipélago, onde cada ilha representa uma possibilidade autônoma de organização da experiência psíquica”.
Afirmava ele que: "Tudo isso se explica pelo fato de a chamada unidade da consciência ser mera ilusão. (…) Somos atrapalhados por esses pequenos demônios, os nossos complexos. Eles são grupos autônomos de associações, com tendência de movimento próprio, de viverem sua vida independentemente de nossa intenção. Continuo afirmando que o nosso inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo, constituem um indefinido, porque desconhecido, número de complexos ou de personalidades fragmentárias.”
É interessante sua descrição sobre esse conjunto de fenômenos:
“Senhoras e senhores, isto nos conduz a alguma coisa realmente importante. O complexo, por ser dotado de tensão ou energia própria, tem a tendência de formar, também por conta própria, uma pequena personalidade. Apresenta uma espécie de corpo e uma determinada quantidade de fisiologia própria, podendo perturbar o coração, o estômago, a pele. Comporta-se enfim, como uma personalidade parcial.” (...) “A personificação de complexos não é em si mesma, condição necessariamente patológica.”
(Jung, Carl Gustav, Fundamentos de Psicologia Analítica. Editora Vozes, 4º ed. páginas 67/68).
A Natureza da Psique.
“(253) ‐ Voltemo‐nos primeiramente para o problema colocado pela tendência da psique a cindir-se. Embora seja na psicopatologia que mais claramente se observa esta peculiaridade, contudo, fundamentalmente trata-se de um fenômeno normal que se pode reconhecer com a maior facilidade nas projeções da psique primitiva. A tendência a dissociar-se significa que certas partes da psique se desligam a tal ponto da consciência, que parecem não somente estranhas entre si, mas conduzem também a uma vida própria e autônoma. Não é preciso que se trate de personalidades múltiplas históricas ou de alterações esquizofrênicas da personalidade, mas de simples complexos inteiramente dentro do espectro normal.
Os complexos são fragmentos psíquicos cuja divisão se deve a influências traumáticas ou a tendências incompatíveis. Como no‐lo mostra a experiência das associações, eles interferem na intenção da vontade e perturbam o desempenho da consciência; produzem perturbações na memória e bloqueios no processo das associações; aparecem e desaparecem, de acordo com as próprias leis; obsediam temporariamente a consciência ou influenciam a fala e ação de maneira inconsciente. Em resumo, comportam-se como organismos independentes, fato particularmente manifesto em estados anormais. Nas vozes dos doentes mentais assumem inclusive um caráter pessoal de ego, parecido com o dos espíritos que se revelam através da escrita automática e de técnicas semelhantes. Uma intensificação do fenômeno dos complexos conduz a estados mórbidos que nada mais são do que dissociações mais ou menos amplas, ou de múltiplas espécies, dotadas de vida.
(254) ‐ Os novos conteúdos ainda não assimilados à consciência e que se constelaram na inconsciência comportam-se como complexos. Pode tratar‐se de conteúdos baseados em percepções subliminares de conteúdos de natureza criativa. Como os complexos, eles conduzem também a uma existência própria, enquanto não se tornam conscientes e não se incorporam à vida da personalidade. Na esfera dos fenômenos artísticos e religiosos estes conteúdos aparecem ocasionalmente também sob forma personalizada, notadamente como figuras ditas arquetípicas. A pesquisa mitológica denomina‐os de "motivos"; para Lévy‐Bruhl trata‐se de “representações coletivas”, (representations collectives) e Hubert e Mauss, chamam‐nos “categoria de fantasias” (catégories de Ia phantaisie).
Coloquei todos os arquétipos sob o conceito de inconsciente coletivo. São fatores hereditários universais cuja presença pode ser constatada onde quer que se encontrem monumentos literários correspondentes. Como fatores que influenciam o comportamento humano, os arquétipos desempenham um papel em nada desprezível. É principalmente mediante o processo de identificação que os arquétipos atuam alternadamente na personalidade total. Esta atuação se explica pelo fato de que os arquétipos provavelmente representam situações tipificadas da vida. As provas deste fato se encontram abundantemente no material recolhido pela experiência. A psicologia do Zaratustra de Nietzsche constitui um bom exemplo neste sentido. A diferença entre estes fatores e os produtos da dissociação provocada pela esquizofrenia está em que os primeiros são entidades dotadas de características pessoais e carregadas de sentido, ao passo que os últimos nada mais são do que meros fragmentos com alguns vestígios de sentido, verdadeiros produtos de desagregação, mas uns e outros possuem em alto grau a capacidade de influenciar, controlar e mesmo reprimir a personalidade do eu, a tal ponto que surge uma transformação temporária ou duradoura da personalidade.”
(A Natureza da Psique”, parágrafos 253 e 254, Jung, Editora Vozes)
Roberto Assagioli
O psiquiatra e psicólogo italiano Roberto Assagioli (1888‐1974), ao criar a Psicossíntese, por volta de 1910, reconheceu os vários aspectos do nosso psiquismo, em níveis sempre crescente de organização, oferecendo, através de sua técnica e postulados, um entendimento mais completo sobre nós mesmos, sobre nossas capacidades e sobre nossas relações, proporcionando‐nos recursos de ajuda para lidarmos com estes elementos de maneira eficiente e segura. São suas estas palavras:
"A personalidade do indivíduo é como uma orquestra. Cada parte dela, chamada de subpersonalidade, é um músico, e o EU é o maestro. Não se pode eliminar um músico, mas fazer com que todos atuem em harmonia. O maestro determina quem vai tocar e a que horas. O compositor é o lado transpessoal do indivíduo, o que cria. O importante é a ligação harmoniosa entre todos para a boa execução da sinfonia.”
(O Ato da Vontade. Roberto Assagioli. Editora Cultrix: São Paulo, 1985)
Alexandre Aksakof.
"Hoje, graças às experiências hipnóticas, a noção da personalidade sofre uma completa revolução. Não é mais uma unidade consciente, simples e permanente, como o afirmava a antiga escola, porém uma "coordenação psicológica", um conjunto coerente, um consenso, uma associação dos fenômenos da consciência, enfim, um agregado de elementos psíquicos; por conseguinte, uma parte desses elementos pode, em certas condições, se dissociar, se destacar do núcleo central, a tal ponto que esses elementos tomem “pro tempore” o caráter de uma personalidade independente.”
(Animismo e Espiritismo. Alexandre Aksakof. FEB).
Joana de Angelis (Divaldo Franco).
Da mesma forma, Joana de Angelis, através da psicografia de Divaldo Franco, no livro “O Despertar do Espírito”, páginas 31 a 42, fez várias referências ao fenômeno e a importantes cientistas e pesquisadores do assunto. Afirma ela:
“na imensa área do ego, surgem as fragmentações das subpersonalidades, que são comportamentos diferentes a se expressar conforme as circunstâncias, apresentando-se com freqüência incomum”.
”As personalidades secundárias assomam com freqüência, conforme os estados emocionais, dando origem a transtornos de comportamento e mesmo a alucinações psicológicas de natureza psicótica e esquizóide. Certamente, muitos fenômenos ocorrem nessa área, decorrentes das frustrações e conflitos, favorecendo o surgimento de personificações parasitárias que, não raro, tentam assumir o comando da consciência, estabelecendo controle sobre a personalidade, e que são muito bem estudadas pela Psicologia Espírita, no capítulo referente ao Animismo e suas múltiplas formas de transes.”
“O trabalho de integração das subpersonalidades é de magna importância para o estabelecimento do comportamento saudável”
“A própria personalidade, não poucas vezes, apresentando-se fragilizada, fragmenta-se e dá surgimento a vários “eus” que ora se sobrepõe ao ego, ora se caracterizam com identidade dominante.”
(O Despertar do Espírito. Joanna de Angelis. Psicografia de Divaldo Pereira Franco. ,Editora Leal)
André Luiz
“Freqüentemente, pessoas encarnadas, exprimem a si mesmas, a emergirem das subconsciências nos trajes mentais em que se externavam noutras épocas,...”
Parece‐nos evidente que na instância denominada “subconsciente” estão gravadas e adormecidas as memórias que ainda não foram devidamente elaboradas. O despertar das personalidades, “nos trajes mentais em que se externavam noutras épocas...”, ocorre quando a memória é ativada por um motivo deflagrador qualquer.
(Mecanismos da Mediunidade. André Luiz. Psicografia de Francisco Cãndido Xavier. FEB. Capítulo sobre “Obsessão e Animismo”, página 165)
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