AUTOESTIMA
Por Silvia Helena Visnadi Pessenda
O que é a autoestima? Por que ela é de importância
capital em nossa vida? Quais são os sinais característicos da baixa autoestima?
Como desenvolver uma autoestima mais elevada? Quais os benefícios que esta pode
nos trazer?
A autoestima – definida como a “aceitação que o indivíduo tem de si mesmo” [1]
– é um conjunto de crenças que alimentamos em relação a nós mesmos,
influenciando, consideravelmente, a maneira de nos percebermos interna e
externamente. Representa, assim, algo de importância capital em nossa vida,
porque essa percepção particular, que tanto pode ser positiva como negativa,
tende a nos conduzir a muitas vitórias ou a vários fracassos e derrotas.
Entretanto, em várias situações,
podemos constatar que esse ponto de vista que cada um tem de si, nem sempre,
corresponde à realidade. Como exemplo, temos o complexo de inferioridade que se
manifesta em certos jovens. Alguns deles alimentam uma autodesvalorização tão
intensa, sentindo-se feios ou inferiores, em virtude de características que não
aceitam em si mesmos: um sinal, estatura, cabelo, forma física, temperamento.
Com isso, admiram artistas, sonham com os cabelos, nariz, forma física e
carisma dos outros, sem conseguirem perceber que também possuem suas próprias
qualidades, inteligência e beleza.
No aspecto físico, a pessoa com
baixa autoestima tende a ter uma aparência desleixada, postura curvada, olhar
sem brilho e para baixo, obesidade, voz vacilante, falta de higiene etc.
Psicologicamente, ela pode ser medrosa, insegura, impaciente, ansiosa, ingênua,
tímida, envergonhada, bem como apresentar dificuldades em seus relacionamentos,
não conseguir fazer-se respeitar pelos outros e possuir os mais variados tipos
de compulsões: bebida, comida, sexo, trabalho...
A baixa autoestima provém de
vários fatores. Em se tratando apenas da presente existência, na maioria dos
casos, é decorrente de um deficiente desenvolvimento psicológico, na infância e
na adolescência.
A Doutrina Espírita, porém,
ensina que todos os espíritos, em decorrência das encarnações anteriores,
quando nascem, já trazem sua própria bagagem espiritual, cujo conteúdo é
variável para cada um deles. Aqueles que vivenciaram situações difíceis e
traumatizantes, por certo, serão as crianças e os jovens com problemas mais
complexos a serem resolvidos, requisitando, dos pais, maior cota de paciência,
compreensão e conhecimentos. E, infelizmente, nem sempre estes conseguem
perceber, em tempo hábil, a melhor maneira de orientar o reequilíbrio mental e
emocional de seus filhos. Outros espíritos, por possuírem uma bagagem
existencial mais amena, não apresentam tantas dificuldades íntimas, e, com
isso, conseguem sustentar sua autoestima em nível mais elevado. Decerto
conhecemos lares em que algumas crianças são, intimamente, muito mais saudáveis
que os próprios irmãos.
Mas ainda é bastante grande a
resistência por parte das pessoas quanto à conscientização dos problemas
psicológicos que, porventura, carregam. No entanto, tal questão deveria ser
tratada, e resolvida, com a maior naturalidade. Vamos com facilidade a um
médico quando estamos doentes fisicamente, porém, em nossas dificuldades
íntimas, tendemos a menosprezar, por orgulho ou falta de percepção, a ajuda que
um profissional especializado pode nos proporcionar nesse sentido.
O escritor espírita Jason de
Camargo, na obra EDUCAÇÃO DOS SENTIMENTOS,
apresenta considerações bastante úteis no tocante à manutenção de autoestima
propiciadora de uma vida mais feliz, equilibrada e saudável. Suas sugestões
falam sobre a importância:
1. do
autoconhecimento:
O autoconhecimento é de grande valia para o nosso
aperfeiçoamento. Uma análise serena e honesta sobre nós próprios levantará os
pontos que merecem ser modificados. [2]
Apesar de
nossa aptidão para analisar o mundo atual e comentar sobre ele, nos embaraçamos
quanto à compreensão de nosso mundo íntimo. Assim, por resistirmos em
reconhecer muitas das fragilidades e limitações que ainda possuímos, mal
conseguimos falar de nossos pensamentos e sentimentos mais íntimos, mal sabemos
quem realmente somos.
2. da
autoaceitação:
Aceite-se como é – cada encarnação tem razões
ponderáveis e você descobrirá valores significativos em si próprio. Não queira
ser outra pessoa. Valorize mais os pontos positivos que você possui. [2]
A
autoaceitação consiste na liberdade de ser, de pensar e de agir, porém, com
consciência elevada. Com isso, controlamos melhor nossa própria vida, porque
nos livramos da dependência doentia da consideração e aprovação alheias.
Muitos são
os indivíduos que esperam as outras pessoas valorizarem neles aquilo que nem
eles próprios conseguem reconhecer em si. Mas o certo é que, quem se subestima,
sempre precisa de um outro alguém ao seu lado para validar sua pessoa. E quando
não obtém aquilo que suas expectativas anseiam, acaba por se sentir, emocional
e moralmente, diminuído.
Não é
orgulho alimentar uma autoaceitação genuína e profunda, porque quando ela se
alia à autoestima, mais eficientemente nutrimos sentimentos de vivacidade e
contentamento, mais respeitamos nossa própria individualidade. Tanto isso é uma
realidade que, no Evangelho de Mateus (13:44), Jesus assim se pronuncia: “O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro
escondido no campo; o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E,
transbordante de alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele
campo.” [3]
É bastante
estimulante vivenciar a alegria de encontrar “tesouros” – às vezes, tão
escondidos! – no próprio íntimo. Contudo, uma autoestima elevada nos permite
transitar pela existência com maior satisfação.
3. do autoamor
Ame-se – o próprio Cristo disse que nós deveríamos
amar o próximo como a nós mesmos. Deus não escolhe a quem amar. Ele ama a todos
e você é uma centelha divina do Criador. Portanto, ame a si e ao seu semelhante. [2]
De pouca
importância será nossa posição social, ou nossos bens e conhecimentos, ou,
ainda, nossa aparência física, se não acreditarmos em nós mesmos, se não
cultivarmos o autoamor. Se não alimentarmos nossa própria dignidade,
permitiremos que os outros falem, decidam e vivam por nós!
Não existe
nada mais triste do que passar toda uma existência sem se dar o devido amor e
respeito. E, por que disso? Porque se não nos respeitarmos, quem nos
respeitará? Se não nos amarmos, quem nos amará? Quando nos respeitamos e nos
amamos plenamente, mostramos aos outros como eles devem nos tratar. Traduzindo
isso em outras palavras: devemos esperar dos outros a mesma dignidade que damos
a nós mesmos.
4. da fé
A fé é certeza – fique sempre do lado da confiança
em si mesmo. A dúvida abre brechas psíquicas de incerteza, e isso poderá
desmoronar seus objetivos de progresso. [2]
A baixa
autoestima sempre nos inclina às escolhas inadequadas e a um persistente sofrimento
íntimo, porque, mais veementemente, passamos a tomar decisões movidos pela
insegurança e pelos mais variados tipos de medos: da solidão, de sermos
incapazes, da opinião alheia.
Uma
autoestima elevada favorece a autoconfiança e uma visão mais positiva e
consistente de nossa própria realidade, nos impelindo à busca de maiores níveis
de excelência e de felicidade em nosso dia a dia.
O apóstolo
Paulo, em sua Primeira Epístola aos Tessalonicenses (2:4), assim sintetiza a
essência da autoconfiança: “Assim
falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso
coração.” [3]
5. dos
pensamentos
Tudo provém dos pensamentos – procure ficar do lado
dos pensamentos construtivos e saudáveis, e eles o levarão para portos mais
seguros. Substitua os pensamentos negativos por outros mais positivos. [2]
Se
acreditarmos que, apesar de nossos medos e limitações, merecemos o bem e a
plenitude íntima, certamente, nos empenharemos nessa conquista.
6. dos bons
hábitos
Cultive bons hábitos – habitue-se a ter seus
momentos de paz diariamente. Leia o Evangelho, medite sobre seu conteúdo, faça
uma prece profunda e prossiga com otimismo na vida.
[2]
7. da
perseverança
Perseverança – persevere na direção da autoestima
saudável, e ela virá progressivamente. A chegada depende do esforço de cada um.
Cultive bons pensamentos e não saia deles. [2]
A Doutrina
Espírita ensina que cada indivíduo, por possuir livre-arbítrio, é o realizador
do seu próprio destino. Quando ele, porém, tem plena convicção daquilo que lhe
é o melhor, é determinado e perseverante. Com isso, se empenha em remover os
empecilhos de seu caminho, em não permitir que ninguém o demova de seus mais
caros objetivos, em não se deixar dominar pela ideia de que está fadado a
sofrer, em não abrir brecha para que a incerteza anule sua força íntima. Assim,
ele planeja sua vida, cria suas próprias metas e segue seu caminho com firmeza
e resolução, buscando a plenitude íntima, sempre.
Quando nos embrenhamos nesse
processo de descoberta de nosso próprio valor, a potencialização de uma
autoestima elevada torna-se uma consequência natural. Gradativamente, vamos
entendendo que o amor a nós mesmos, como recomendado por Jesus, é garantia de
uma vida mais gratificante e consciente das riquezas que nos cercam. E, quando
estamos bem com nós mesmos, amar a Deus e ao próximo torna-se algo inevitável,
em razão da alegria e da confiança que passamos a abrigar n’alma.
Para finalizar suas considerações
sobre a autoestima, de Camargo nos deixa mais essas palavras:
Aos poucos, o indivíduo irá aumentando sua
autoestima; aparecem os sinais do prazer da vida, da autoaceitação, da
consciência de seu valor, da alegria, da flexibilidade, da confiança, da
atitude positiva e dos demais valores de uma vida saudável e equilibrada.
Autoestima: saber apreciar-se, avaliar-se, computar-se com
discernimento e não com julgamento. É buscar o bem em si mesmo, na certeza da
própria certeza interior. É pensar positivamente, consciente de que para tudo
há uma razão. É olhar-se com naturalidade, observar-se para crescer e não para
criticar ou ufanar. É estar bem consigo mesmo. É ter prazer de ser.
FONTE: http://www.aluzdoespiritismo.com.br/artigos/ler.php?texto=91