Terapia de vida passada
Brian L. Weiss
É grande o número de
pessoas que dizem ter encontrado na TVP (Terapia de Vidas Passadas) a solução
que buscavam há muito tempo para medos, traumas ou dificuldade em lidar com
determinadas pessoas ou situações, ou melhor, sensações de origem inexplicável
na vida atual.
Mistérios que a Ciência
oficial ainda busca compreender, mas que ainda está distante de aceitar que as
experiências e lembranças podem ficar armazenadas para sempre nos “arquivos” do
espírito. Um vasto acervo de memória guardado no cofre do tempo e que o nosso
estágio evolutivo não permite, ainda, compreender tamanha complexidade.
Há estudos que mostram
que no velho Egito, sacerdotes-médicos já utilizavam o desdobramento espiritual
(projeção da consciência) dos enfermos pela indução magnética para que
ampliassem a percepção e conseguissem atingir as causas profundas de seus
males. Mas na atualidade, foi com os avanços da psicologia transpessoal, que
leva em conta o aspecto espiritual do indivíduo, que a TVP – como é conhecida a
Terapia de Vidas Passadas – ganhou maior força. O intercâmbio de conhecimento
entre a cultura ocidental e oriental também permitiu o crescimento da
terapêutica.Das técnicas utilizadas pela psicanálise de Freud para a expansão da consciência até a regressão de memória e, posteriormente, a vidas passadas, ocorreram grandes evoluções a respeito, mas é preciso caminhar muito, ainda, para que finalmente corpo e alma entrem em plena conexão.
Embora exista maior
divulgação sobre regressões obtidas por intermédio de indução terapêutica, com
aplicação de técnicas que promovam estados alterados de consciência, há também aqueles
que afirmam terem se recordado de fatos importantes relacionados a existências
anteriores através de sonhos. Mas neste caso, vamos abordar apenas as
regressões de memória promovidas por especialistas. A terapia utilizada de
forma correta e séria possibilita que o paciente, durante as sessões
terapêuticas, possa entrar em contato com as lembranças traumáticas que
influenciam na atualidade determinados comportamentos, e conseqüentemente,
consiga se libertar de padrões estabelecidos em diversas existências.
Os especialistas dizem
que a TVP é indicada como um recurso importante na compreensão e superação
desses desequilíbrios, mas, assim como qualquer outro tratamento, não funciona
como mágica capaz de resolver os problemas de todos os pacientes. Além disso, o
tratamento deve ser aplicado por profissionais capacitados e não por qualquer
pessoa. É o que alerta a dra. Maria Júlia Peres, considerada a precursora da
Terapia de Vidas Passadas no Brasil e fundadora do Instituto Nacional de
Pesquisa e Terapia Regressiva Vivencial Peres. Ela associa a terapia
cognitivo-comportamental ao uso do estado modificado de consciência, promovido
pelo relaxamento físico e mental do paciente. A associação das técnicas permite
um processo de auto-resolução dos conflitos interiores e uma reprogramação dos
padrões mentais do paciente.
O psiquiatra e
conceituado escritor norte-americano, Brian Weiss, especialista em Terapia de
Vidas Passadas ressalta, também, sobre o cuidado no momento de escolher o
terapeuta adequado, um que saiba diferenciar a imaginação do paciente de uma
verdadeira regressão. “Recordo de um paciente que achava que tinha sido
Napoleão. Ele via batalhas, uniformes e estratégias de guerra. Nós checamos e
os fatos eram realmente reais, mas ele não foi Napoleão, mas um soldado de seu
exército e estava, inclusive, a alguns metros dele. Como na vida atual ele era
um pessoa que sentia necessidade de poder, acabou fazendo uma distorção da
realidade”, relata.
Em recente visita ao
Brasil para o lançamento de seu novo livro, Muitas Vidas Uma Só Alma, Brian
Weiss concedeu uma entrevista exclusiva a Revista Cristã de Espiritismo.
Dr. Weiss é o autor de
vários livros que bateram recordes de vendas, todos baseados em sua experiência
como psiquiatra e terapeuta de vidas passadas. Formado pela Columbia University
e pela Yale Medical School, Brian L. Weiss M.D. foi diretor do Departamento de
Psiquiatria do Mount Sinai Medical Center em Miami.
O médico, que era cético
em relação à existência da reencarnação, diz ter mudado sua visão de vida há 25
anos, após um caso de regressão com uma de suas pacientes, durante uma sessão
de hipnose. O caso é relatado no livro Muitas Vidas Muitos Mestres, que se
tornou recorde de vendas. A partir desse episódio, Brian Weiss passou a
trabalhar com terapia de vidas passadas. Em todos esses anos de experiência,
foram mais de quatro mil pacientes atendidos, além de um grande número de
palestras por diversos países do mundo.
Em geral como é a visão
dos americanos em relação à espiritualidade?
Brian Weiss - Está
mudando, existem cada vez mais pessoas interessadas no assunto nos EUA. Esse
novo conceito vai contra o movimento fundamentalista e ultra-religioso que
predomina. Porque religiosidade e espiritualidade são coisas diferentes. A
pessoa pode ser extremamente religiosa, mas não ser espiritualizada. Ao mesmo
tempo em que cresce o número de pessoas que buscam a espiritualidade, aumenta
também a influência, principalmente política, do fundamentalismo, um grupo
perigoso, com uma visão fechada a respeito das coisas e que acredita ser dono
da verdade. Porém, há nos EUA muitos grupos diferentes, ou seja, diversas
correntes de pensamentos.
Os americanos falam
sobre Espiritismo?
Sim, de certa forma, mas
não como no Brasil, onde a crença é centrada na codificação de Kardec. Eles
falam sobre espiritualidade, mas em âmbito mais amplo e geral, o que engloba
também outras correntes espiritualistas.
A influência do
Protestantismo também está crescendo nos EUA?
Sem dúvida, está
crescendo. Para mim a espiritualidade está diretamente relacionada ao amor,
independente da religião. A compaixão, a não-violência e a empatia podem estar
presentes em qualquer tradição religiosa. Às vezes, penso que o protestantismo
está tentando se tornar um só sistema, o que é perigoso demais, porque faz com
que as pessoas deixem de ter a mente aberta e se tornem seguidores sem lógica.
Em sua opinião, a
Ciência está próxima de provar a existência do espírito?
É difícil medir isso
cientificamente, porque hoje em dia tudo é feito com testes de DNA, mas
clinicamente é possível verificar um aperfeiçoamento. É fato que existem
pessoas se curando de diversos problemas através das memórias de vidas
passadas. Quando a pessoa consegue se recordar de uma vida passada, é seu
espírito que lembra e não seu corpo, por isso seria difícil comprovar
cientificamente, testando-se o cérebro e o DNA. Até agora tem se provado a
existência do espírito clinicamente, mas nunca foi utilizado um exame de sangue
para isso. Então, ninguém pode provar que funciona através da química cerebral,
embora possa ser observada a melhora desses pacientes. É isso que a terapia de
vidas passadas e a análise psíquica tem em comum. São técnicas similares que
promovem a melhora ou até mesmo, o desaparecimento de sintomas físicos, medos e
problemas mentais.
O senhor acredita que
algum dia as escolas ensinarão aos alunos temas ligados à natureza espiritual
como a reencarnação?
Hoje em dia esse é um
assunto importante nos EUA. O país tem a tradição de não ensinar religião nas
escolas, eles chamam isso de separação entre a Igreja e o Estado. Na minha
opinião é provavelmente o melhor caminho, porque a religião está entrando nas
escolas de uma forma errada. Talvez, inserir religião na escola seja uma tarefa
mais complicada do que tira-la, porque muitas vezes, dirigentes ignorantes
querem impor sua religião. Portanto, seria melhor deixar a religião de lado e
deixar essa tarefa para os pais.
Com relação à regressão,
ela pode ocorrer sem a interferência de um terapeuta?
Claro que sim, isso
acontece o tempo todo. Podemos nos recordar de vidas passadas de forma
detalhada por meio dos sonhos. Pode ocorrer, também, quando a pessoa viaja para
algum lugar no qual nunca esteve antes e sabe onde tudo se localiza, como se já
estivesse estado lá outras vezes. Então existem os sonhos, as memórias
espontâneas e o “déjá vu”, expressão de origem francesa que significa “já
visto”.
É aconselhável que
apenas alguém formado em medicina trabalhe com terapia de vidas passadas ou um
médium também atuar nesta área?
São duas coisas
diferentes. O médium pode até falar sobre vidas passadas, mas é completamente
diferente quando a própria pessoa experimenta e sente novamente as emoções
vivenciadas no passado. Nos EUA não temos muitos médiuns, então, não são
exatamente eles que fazem isso, mas podem existir pessoas que não possuem
treinamento em TVP e isso atrapalha na interpretação de informações. Porque
muitos fatos podem ter sentido metafórico ou serem apenas fruto da imaginação.
Se o paciente apresentar algum problema psicológico mais significativo, vai
precisar de um terapeuta para ajudá-lo a lidar com as emoções revividas.
Existe perigo da pessoa
não voltar da hipnose adequadamente?
Eu acredito que não,
porque mesmo na hipnose, o subconsciente é muito protetor e não permite que aconteça
algo que a pessoa não possa lidar.
Qual foi sua intenção ao
escrever o livro A Cura Através da Terapia de Vidas Passadas?
Foi para mostrar as
pessoas e ao meio científico que é possível a cura dessa forma. O livro Muitas
Vidas Muitos Mestres teve muita repercussão, especialmente entre a comunidade
acadêmica, mas entre os psicólogos e psiquiatras houve muita crítica. Então,
quis escrever um livro para mostrar que esse assunto é mais importante e sério
do que parece. A obra A Cura Através da Terapia de Vidas Passadas relata vários
casos de pessoas que obtiveram melhora por meio da regressão. Mostra, também,
para que serve e como fazer. Minha intenção foi permitir que médicos e
cientistas entendessem o que é exatamente essa terapia e que realmente existe uma
sólida base clínica para isso.
Poderia citar algum caso
de experiência com regressão a vidas passadas?
Existe um caso famoso
sobre uma mulher nos EUA. Ela teve uma memória de uma vida passada na antiga
Jerusalém e nessa vida recente, sofreu por dezessete anos com um problema
severo de dor nas costas, em conseqüência de um câncer que teve. A cirurgia e
os tratamentos radioativos causaram danos em suas costas. Através da lembrança
de uma vida passada em Jerusalém e das referências a Jesus nessa época por meio
da regressão, ela descreveu sua vida com muitos detalhes. Sua forte dor nas
costas desapareceu quando se lembrou desses fatos importantes.
E seu livro mais
recente, o Muitas Vidas, Uma só Alma, que além de vidas passadas também aborda
vidas futuras?
O livro aborda sobre
vidas passadas e o processo de cura, mas também sobre vidas futuras. Muitos dos
meus pacientes passaram a penetrar no futuro espontaneamente. Eu dizia a eles:
“Vá até onde está o problema” e muitas vezes eles se reportavam ao futuro, não
apenas ao passado. Eu estava fazendo pesquisa a respeito de sonhos do futuro
(pré-cognitivos) e descobri que muitos de meus pacientes que passaram por uma
Experiência de Quase-morte desenvolveram a capacidade de sonhar com o futuro. A
partir desse fato, cheguei a conclusão de que, se alguns deles, com essas
Experiências Quase-morte podiam fazer isso, outros pacientes, através da
hipnose, poderiam também e descobri que realmente podem. Muitos dos meus
pacientes puderam se reportar não apenas a fatos futuros dessa vida, mas das
próximas existências.
Mas o futuro é algo
dinâmico...
O tempo só existe aqui
nesse mundo. Os estudos da física quântica, por exemplo, mostram que existem
dimensões paralelas. Tudo é energia.
Eu acredito que quanto
mais as pessoas mudam nessa vida, mais suas vidas mudarão, porque o futuro não
é fixo. É como admite a física moderna, existem muitos mundos paralelos. Então,
passei a trabalhar mais com vidas futuras, porém nunca esquecendo das vidas
passadas, porque ambas estão conectadas.
Poderia citar algum
caso?
Eu fiz muitas pesquisas
nessa área, levando indivíduos até o futuro. Posso citar o caso de um pai que
estava muito preocupado com sua filha porque ela tinha leucemia. Ele “foi” ao
futuro e conseguiu ver seus netos, que seriam filhos dela. Então ele sabia que
sua filha iria sobreviver. Ao conseguir vislumbrar o futuro, o pai passou a sentir
menos medo, se tornou mais amoroso com a filha e ela respondeu a esse estímulo
e realmente obteve a cura.
Outro trabalho que fiz,
ainda nesta área, foi levar grupos de pessoas em conferências a um futuro
distante. Depois essas pessoas responderam a um questionário relatando suas
experiências. Eu fiz isso com milhares de pessoas e chegamos a um consenso
desses relatos, principalmente os que dizem respeito a mil anos à frente. Os
relatos descreviam um mundo muito bonito, sem doenças, violência e com uma população
menos numerosa que atualmente.
É importante ressaltar
que no caso de experiências futuras trabalhamos com possibilidades e
probabilidades. As pessoas enxergam o futuro mais provável, porque não podemos
nos esquecer que temos livre-arbítrio, ou seja, poder de escolha que
determinará nosso futuro.
Gostaria de deixa uma
mensagem aos leitores da Revista Cristã de Espiritismo?
Eu estive em muitos
países e acredito que o Brasil seja um dos lugares mais espiritualizados do
mundo, mais até do que a Índia, que já foi bastante, mas as coisas mudaram.
Espero que os
brasileiros continuem nesse caminho, porque o Brasil pode ser uma luz para o
mundo nesses tempos de escuridão. É importante jamais nos esquecermos de que a
alma é o que realmente importa, que nossa real natureza é espiritual e não
física. Somos seres espirituais e nós vivemos nessa escola por um tempo, mas
não há morte, a alma continua sempre viva.
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